sábado, 24 de outubro de 2009

Entrevista ao EXPRESSO Quique Flores



No último dia de Junho, enviámos um SMS a Quique Flores, que acabava de ser despedido de treinador do Benfica. Pedimos-lhe uma entrevista. De Espanha - para onde voltou sem glória - só silêncio, nem uma resposta.


Até à última semana, em que finalmente recebemos uma mensagem. Quique Flores aceitava falar. Mas, "por questões de segurança", só aceitava responder a perguntas por escrito. Aceitámos, mas com direito a réplica.


As respostas mostram um Quique cauteloso, elegante e aparentemente sem ressentimentos.


Porque fala agora?
Quando termino um projecto é preciso tempo, reflexão, distância para formar uma ideia.

Está magoado?
O que sinto é gratidão. Os momentos bons sempre superaram os de baixo índice emocional. Cheguei a apaixonar-me, cumpri o meu primeiro objectivo de ser feliz como técnico.

Como era a sua relação com o presidente Luís Filipe Vieira?
Correcta e de respeito em ambas as direcções, é fácil darmo-nos bem com ele, proporciona um tratamento excelente.

E a relação com Rui Costa?
Intensa, porque os dois sentimos com forte paixão. Foi um farol, nunca um obstáculo...

Como foi o despedimento?
Pensado, meditado e levado a efeito. Com gratidão e proveito para todos. A falta de horizonte com expectativas idênticas ajudou a tomar a decisão.

Quando soube que ia sair?
Algum tempo antes de terminar a época. O esforço foi grande para travar a queda do Benfica, vinha de ser quarto, e de quatro anos sem títulos, o desgaste foi grande. Consegui um título, subir na classificação e pontos, mais a formação de jovens como Sidney, Miguel Vítor, Di Maria, David Luiz, Amorim, Urreta. Faltou chegar à Champions. Entendi que a urgência superava as ferramentas e fui sincero com os responsáveis.

Não há nada que critique no seu despedimento?
Pode parecer estranho no futebol mas a nossa convivência foi de um acordo permanente. É possível o Benfica ser campeão com Vieira presidente?É possível com a soma de boas ideias e perseverança. Vieira tem essa forma de viver.

Qual foi a sua indemnização?
É uma pergunta inegociável...

Pensava ficar mais tempo?
Quando trabalho, só penso em preparar o grupo para que esteja preparado a todo o momento.

Que erros cometeu?
Houve seguramente erros, mas no saldo de riscos e benefícios estes foram superiores. Em Dezembro estávamos em primeiro. Mas o futebol é um jogo de alta traição onde há que assumir os acidentes como próprios, não como agressão alheia.

Aimar é agora mais rentável. Porque o colocou a avançado?
Aimar já estava inventado, atribuir-se uma reinvenção do que já está provado não tem sentido. Ele chegou ao Benfica porque o viram jogar muitas vezes como segundo ponta-de-lança, outras como interior e também como ligação para dois avançados. É um profissional de uma qualidade descomunal. O primeiro objectivo foi recuperá-lo para o futebol.

Aceita a crítica de que foi teimoso ao pôr jogadores fora das suas posições?
Aceito a crítica como base de um mundo do futebol que admite todo o tipo de opinião, porque neste jogo quase ninguém passou sem dar um pontapé numa bola, assim adquiriram direito de criticar.

Tem seguido os jogos do campeonato português?
Sou um nómada com memória, não um funcionário do futebol. Interessa-me o que acontece antes, durante e depois de abandonar os lugares.

O Benfica tem condições para voltar a ser um grande europeu?
O Benfica tem que entender que as ferramentas do passado já cobraram o seu prémio, Eusébio e tudo o que veio depois. Agora os tempos são outros, onde a planificação e a previsão são armas letais no momento de conseguir os objectivos. Que saltador é que consegue os oito metros sem antes passar pelos sete? Nenhum.

E agora, o que está a fazer?
Vejo futebol, comparo, revejo memórias, introduzo elementos novos e separo o que entendo que não me faz crescer. Entre jornadas de futebol respiro todo esse ar que mais tarde é necessário como energia de trabalho.

Gostaria de voltar a treinar em Portugal? Que clube?
Em qualquer momento, sempre e quando a necessidade de um clube coincida com a minha disponibilidade.

Quais as diferenças entre o futebol português e o espanhol?
A liga em Espanha só aponta para cima, as melhores equipas têm ganho diversas Champions e a selecção é a mais prestigiada no mundo. Além disso, tem muitos dos melhores jogadores do mundo, isto é, importa jogadores. Portugal continua a exportar o melhor de si.



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"Nunca caio na tentação de fazer comparações. Valorizo o tempo e as circunstâncias"

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